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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

De algumas ocasiões que devemos evitar cuidadosamente

Por Santo Afonso Maria de Ligório


"Como queremos salvar nossa alma, é nosso dever fugir da ocasião do pecado. Principalmente devemos abster-nos de contemplar pessoas que possam suscitar maus pensamentos. "Pelos olhos entra a seta do amor impuro e fere a alma", diz S. Bernardo (De modo bene viv., c. 23), e essa seta, ferindo-a, tira-lhe a vida. O Espírito Santo dá-nos o conselho: "Desviai vossos olhos de uma mulher adornada" (Ecli 9,8). 

Mas será pecado fitar pessoas de outro sexo? Se estas forem jovens, será pecado venial, pelo menos; e quando se prende nelas atenciosa e demoradamente as vistas, e isso repetidas vezes, há mesmo perigo de pecado mortal. Segundo São Francisco de Sales um só olhar já é prejudicial e muito mais repetidos olhares.

Para se livrar de tentações impuras um antigo filósofo arrancou os olhos. Nós, cristãos, não podemos assim proceder, mas devemos cegar-nos espiritualmente, desviando os olhos de objetos que possam ocasionar-nos tentações. S. Luis Gonzaga nunca olhava para uma mulher e, mesmo em conversa com sua própria mãe, tinha os olhos postos  no chão. É claro que o mesmo perigo existe para as mulheres que cravam seus olhos nos homens. 

Em segundo lugar, deve evitar todas as más companhias e as conversas e entretenimento em que se divertem homens e mulheres. Com os santos te santificarás e com os perversos te perverterás. Anda com os bons e tornar-te-ás bom, anda com os desonestos e tornar-te-ás desonesto. 

O homem toma os hábitos daqueles que convivem com ele, diz S. Tomás de Aquino. Se estiveres metido em uma conversação perigosa, que não possas abandonar, segue o conselho do Espírito Santo: Cerca teus ouvidos de espinhos para que os pensamentos impuros dos outros não achem nele entrada. Quando S. Bernardino de Sena, ainda pequeno ouvia uma palavra desonesta, sentia o rubor subir às suas faces, e por isso seus companheiros tomavam cuidado para não pronunciar tais palavras em sua presença. E S. Estanislau Kostka sentia tal asco ao ouvir tais palavras, que perdia os sentidos. 

Quando ouvires alguém conversando sobre coisas impuras, volta-lhe as costas e foge. Assim costumava proceder S. Edmundo. Havendo uma vez abandonado seus companheiros por estarem conversando sobre coisas desonestas, encontrou-se com um jovem extraordinariamente belo que lhe disse: Deus te abençoe, querido. Ao que o santo perguntou, admirado: Quem és tu? Olha para minha fronte e lerás meu nome. Edmundo levantou os olhos e leu: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus. Com isso Nosso Senhor despareceu e o santo sentiu uma alegria celestial em seu coração. 

Achando-se em companhia de rapazes que conversam sobre coisas desonestas e, não podendo retirar-te não lhes dê atenção, volta-lhes o rosto e dá-lhes a conhecer que tais conversas te desagradam. 

Deves também abster-te de considerar quadros menos decentes. S. Carlos Borromeu proibiu a todos os pais de famílias conservam tais quadros em suas casas. Deves igualmente evitar a leitura de maus livros, revistas e jornais, não só dos que tratam ostensivamente de coisas imorais, como também dos que se ocupam de histórias eróticas, como certos poetas e romancistas. (grifos nossos). 

Vós pais de família, proibi a vossos filhos a leitura de romances: estes causam muitas vezes maiores danos que os livros propriamente imorais, porque deixam nos corações dos jovens certas más impressões que lhes roubam a devoção e os induzem ao pecado. S. Boaventura diz (De inst. nov., p.1, c. 14): "Leituras vás produzem pensamentos vãos e destroem a devoção". Dai a vossos filhos livros espirituais, como a história eclesiástica, ou vidas dos santos e semelhantes.

Proibi a vossos filhos representar um papel qualquer em comédia inconveniente e mesmo a assistência a representações imorais. "Quem foi casto para o teatro, de lá volta manchado", diz S. Cipriano. Se para lá se dirigiu aquele jovem ou aquela donzela em estado de graça, de lá voltam ambos em estado de pecado. Proibi também a vossos filhos a ida a certas festas, que são festas do demônio, nas quais há danças, namoros, canções impudicas, gracejos e divertimentos perigosos. Onde há dança, celebra-se uma festa do demônio, diz S. Efrém. (grifos nossos). 

Mas que há de ruim quando se graceja? dirá alguém. Esses tais gracejos não são gracejos, mas crimes, responde S. João Crisóstomo, são graves ofensas contra Deus. Um companheiro do Pe. João Vitellio, contra a vontade deste servo de Deus, se dirigiu uma vez para um tal divertimento em Nórcia. Que lhe aconteceu? Perdeu primeiramente a graça de Deus, entregou-se em seguida a uma vida desregrada e foi finalmente assassinado por seu próprio irmão. 

Poderás aqui perguntar-me se é pecado mortal namorar. Responderei a essa pergunta na segunda parte, c.6, IV. Aqui só direi que tais namoros tornam-se ocasião próxima de pecado. A experiência ensina que em tais casos só poucos deixam de pecar. Se não pecam já no começo, caem no decorrer do tempo. No princípio se entretém só por inclinação mútua; e inclinação mútua torna-se, porém, em breve paixão, e a paixão, uma vez arraigada, cega o espírito e arrasta a muitos pecados de pensamentos, palavras e obras."

A Primeira parte que antecede este artigo, escrito pelo próprio Santo Afonso pode ser lido no seguinte link: Da obrigação de evitar as ocasiões perigosas.

Fonte:
Escola da Perfeição Cristã - Santo Afonso Maria de Ligório - Parte II, Pag. 46 - 47. 

Um comentário:

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