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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Da caridade para com os doentes - Por Santo Afonso de Ligório

Por Santo Afonso de Ligório

Devemos tomar em a peito que é muito mais meritório tratar dos enfermos que servir aos sãos, por necessitarem aqueles muito mais de assistência e se acharem muitas vezes abandonados de todos e atormentados, além disso, por dores, inquietações e tédio. Não há, pois, dúvida que é uma obra muito agradável a Deus procurar consolá-los e socorrê-los em tal estado de aflição. E também por haver mais ocasiões de se padecer no tratamento dos doentes é esta obra mais meritória; não é pequena mortificação suportar o ar impuro, o desalinho de seus quartos, e suas mesmas enfermidades.

Se tiveres, pois, de tratar de algum doente, terás, de fato, um encargo bem incômodo, mas tens uma ocasião de abundantíssimos merecimentos. Para isso deves ver em cada doente o próprio Jesus, que declarou aceitar como feito a si mesmo tudo o que se fizer pelos enfermos. "Estive doente e me visitaste" (Mt 25,36). Deves, contudo, estar provido de muitas virtudes.

Em primeiro lugar, precisas de grande caridade, para tratares o enfermo o melhor que puderes. Não te inquietes se não puderes, às vezes, ouvir o sermão, assistir à Missa, ou fazer as orações de costume; alcançarás maiores merecimentos tratando de teu irmão enfermo que fazendo as tuas devoções. Compadece-te dele e procura-lhe todos os alívios corporais possíveis; se não puderes dar-lhe o que deseja, por nocivo, consola-o ao menos com boas palavras. Traze-lhe à memória, de vez em quando, um pensamento salutar, recorda-lhe a paixão de Jesus Cristo, recita-lhe alguma coisa de um livro devoto, se isso lhe apraz. Não te esqueças também de ministrar-lhe os remédios nas horas marcadas. 

Em segundo lugar, deves ter uma grande humildade para cuidar de todos os doentes, mesmo dos mais miseráveis. Não reputes como indigno de ti auxiliá-lo em todas as suas necessidades. Essas são as ações mais dignas de um cristão. 

Em terceiro lugar, deves ter muita paciência para tratá-lo durante o tempo de sua doença, ainda que seja longa.

Em quarto lugar, deves ter uma grande mansidão para suportar os caprichos de certos doentes que, em vez de agradecerem, queixam-se sempre de todos os serviços que se lhes prestam, e, por assim dizer, não podem contentar-se com nada. Deves te compadecer deles, pensando no quanto devem sofrer. 

Repele o pensamento de que tal pessoa não está doente como parece, e nunca ouses lançar-lhe em rosto que sua doença é unicamente fantasia. Também não deves esconder ao doente a gravidade do mal, se realmente existe, mas mesmo avisá-lo, dizendo: Amigo não é caso para desesperar; mas devo-lhe dizer com franqueza que sua doença é mui perigosa e que Nosso Senhora parece querê-lo junto de si. Mandarei chamar o confessor. Os sacramentos não só servem para a alma, como também para o corpo. Prezarei que recupere saúde; mas, em todo o caso, deve-se entregar à vontade de Deus.

Não receies fazer ao doente esta comunicação, mesmo que isso o contriste, pois nunca se deve esperar até desaparecer toda a esperança, como infelizmente acontece tantas vezes com os filhos do mundo. É este um deplorável abuso, que lança tantas almas no inferno. 

Logo que ouvires do médico que o estado do doente é perigoso, cuida da administração dos sacramentos ao enfermo, principalmente se tens razão de recear que não seja bom o seu estado de consciência. Um enfermeiro que desempenha assim o seu cargo é, em toda a verdade um amigo de Deus. 

Quanto mais pobres e abandonados estiverem os doentes, mais deves cuidar em prestar-lhes assistência, principalmente se as doenças durarem muito. Consola-os, então, servindo-os e socorrendo-os. Se se trata de uma doença contagiosa, ensina a teologia e o martirológico romano que são considerados como verdadeiros mártires os que sacrificam sua vida no tratamento de tais doentes. 

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Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja; Do Livro: Escola da Perfeição Cristã; Cap. IV. Do amor do próximo; Pg 168.

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