Esse fato fazia-me sentir mais a separação. Papai levou-me ao porto, onde, com as duas meninas N., fui entregue ao Coronel M. A cena de despedida, em casa, foi bem dolorosa. O vapor sairia às duas horas da tarde, e já pela manhã, bem cedinho, Acácia me acordara para eu ir à s. Missa, durante a qual comunguei. Não iria, agora, sozinha: Jesus e meu Novo Amigo me acompanhariam. Já muito tempo antes da viagem, andava receosa, julgando, na minha infantilidade, que meu Novo Amigo, “por qualquer motivo”, não pudesse acompanhar-me… Tal, porém, não sucedeu. Padre Godofredo dera-me um santinho do Santo Anjo da Guarda, no qual escrevera a linda oraçãozinha que eu muito bem sabia de cor e que, de manhã e à noite, rezava:
“Santo Anjo do Senhor, Meu zeloso guardador, Se a ti me confiou a piedade divina, Sempre me rege, guarda, Governa e ilumina. Amém”.
A viagem correu bem e amanhecemos em Santa Vitória, onde já nos esperava, no porto, o casal N. Estranhei imensamente a falta de meus pais e irmãos e da boa Acácia, se bem que aquela família N. me cercasse de todo o carinho, cuidado e dedicação. Antes de duas semanas, adoeci com febre alta e, se não tivesse a presença contínua de meu Jesus e de meu Novo Amigo, creio que não teria resistido à dura separação. Por fim, restabeleci-me, e a família N. já estava em preparativos para partir para o mar, quando veio a notícia de que a casa fora incendiada. Foi então resolvido ir-se para a grande Fazenda N.
A vida aprazível e movimentada da fazenda ia, pouco a pouco, como que diluindo a espécie de nostalgia que me ia na alma, e, por fim, sentia-me bem. Eram carreiras, passeios a cavalo ou de breack, e, numa tarde, grande entusiasmo na fazenda, para o banho na “cachoeira”. Estavam na casa as famílias da vizinhança.
Fomos. Grupos a cavalo, de aranha e de breack. Dona N. levou-me consigo na aranha. Eu ia radiante. Chegamos a tal cachoeira, que para mim foi uma “maravilhosa novidade”. Era um salto d’água, espumante e cantante, que rolava por sobre pedras enormes, indo deitar-se, depois, num leito macio de areia. Armaram, às margens, três ou quatro barraquinhas e, de lá, em pouco tempo, saíam os grupos para o banho.
Dona N. chamou-me para pôr o tal traje de banho. Corri radiante. Porém, antes de chegar a ela, sou impedida, por um braço, por meu Novo Amigo e pela presença mais viva de Nosso Senhor em meu pequeno ser, fazendo-me compreender que não devia acompanhar aquele grupo. Disse eu, então, parada em meio caminho: “Não, Dona N., não quero vestir-me assim, nem banhar-me. Fico esperando aqui”. Dona N. mostrou descontentamento. Receosa, tímida, mostrava-me indecisa em obedecer-lhe ou não. Porém sentia-me ainda presa pela s. Mão de meu Novo Amigo. Então, resolutamente, respondo aos seus insistentes chamados: “Dona N., não quero vestir-me assim, nem banhar-me”.
Os grupos prontos preparavam-se para entrar na água. Meu Novo Amigo passou para minha frente e, durante todo o tempo que os banhistas permaneceram na água, e depois na margem, onde formaram baile, tinha eu, pela primeira vez, na minha frente, a Sombra Santa e Benfazeja que, supunha eu, eram as Asas distendidas de meu Novo Amigo. E sempre, dali em diante, as “Santas Asas Protetoras” distenderam-se na minha frente, impedindo-me de ver o que Nosso Senhor nem Ele queriam que eu visse.
Tirado do livro: Seleta de textos sobre a Modéstia.
Obrigada pelo texto!
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