No meio das alegres companhias, nas reuniões, e festas mundanas, Jesus dardejava-lhe tão ardentes setas de amor, que lhe penetravam o coração e lhe intoxicavam todo o prazer. E quando ela voltava à casa, fazia-lhe ouvir no silêncio do seu quarto amargas queixas, lançando-lhe em rosto a sua ingratidão.
Margarida, cheia de dor, prostrava-se, então, com a face em terra e depois, lançando mão da disciplina, desapiedadamente se flagelava até derramar sangue. Apesar destas lutas, ela voltava novamente às suas vaidades, fascinada pelos aplausos do mundo; coroava-se com as flores da terra, que apenas duram um dia e deixam após si os mais pungentes espinhos.
Numa noite de carnaval vestiu-se luxuosamente para tomar parte num festim, ao qual muitas das suas companheiras a haviam convidado. De volta, quando estava para se deitar, apareceu-lhe Jesus no mistério doloroso da sua flagelação, todo desfigurado pelos açoites, com o corpo ensanguentado, o semblante pálido e macilento, os lábios crestados pela sede e os divinos olhos cheios de lágrimas; e, depois de a haver fitado com olhar severo: «Filha cruel, disse-lhe, vê a que estado me reduziram as tuas vaidades! Tu estás perdendo um tempo infinitamente precioso de que deverás prestar rigorosas contas; atraiçoas-me e me persegues, depois de eu te haver dado tantas provas do meu amor».
Fonte: Ad Majorem Dei Gloriam.
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