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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Paciência nas afrontas

Por Santo Afonso de Ligório

"Sór Maria da Ascensão, quando recebia alguma afronta, corria logo ao altar do SS. Sacramento e dizia: Meu divino Esposo, eu vos ofereço este mimo. Dignai-vos aceitá-lo e perdoar a quem me ofendeu. Porque não havereis de fazer assim? É necessário sofrer tudo para conservar a caridade. O Padre Alvares dizia que esta virtude é fraca, enquanto não passou pelas provas dos maus tratos. É nestas ocasiões que se conhece, se uma alma tem caridade. Quando alguém vos falar com cólera, vos injuriar ou censurar de alguma coisa, respondei-lhe com doçura, e o vereis logo aplacada, porque está escrito: Uma resposta branda detém e acalma a ira. Assim como o fogo não pode ser extinto pelo fogo, nota S. João Crisóstomo, assim também a ira não pode ser apaziguada pela ira. — Aquela pessoa vos fala com ira; vós lhe respondeis com cólera: como quereis que se acalme?

Ainda que acendereis nela o furor, e ofendereis ainda mais a caridade. — Eis o que Sofronio refere a este propósito: Dois monges em viagem tendo errado o caminho, entraram, por acaso, em um campo semeado. O camponês, guarda do território, ao vê-los andando naquele sítio, os cobriu de injúrias. Eles, a princípio, calaram-se, mas vendo que o guarda se enfurecia cada vez mais e engrossava as afrontas, disseram-lhe: Irmão, nós erramos, nós fizemos mal. Por amor de Deus, perdoai-nos. Essa resposta tão humilde o fez entrar em si, de modo que, por sua vez, se pôs a pedir perdão das injúrias irrogadas; e se compungiu tanto, que deixou o mundo e se fez monge com eles.

Se o vosso irmão chegar até a vos fazer alguma injúria positiva, vingai-vos, como faziam os santos. Qual é a vingança dos santos? Eis o que vos responde S. Paulino: Amar, louvar os que nos fazem mal e prestar-lhes benefícios, eis a vingança dos santos. 

A uma mulher que tinha atacado Sta. Catarina em ponto de honra, a santa serviu como de escrava em uma longa enfermidade. — Sto. Acaio vendeu seus bens para socorrer a quem tinha privado da estima de que gozava. — Sto. Ambrósio estabeleceu uma pensão diária para que pudesse viver comodamente, a um sicário que tinha atentado contra sua vida. 

Venustano, governador da Toscana, fez cortar as mãos ao Bispo S. Sabino por causa da fé, mas, depois, sendo atacado de uma grande dor nos olhos, lhe pediu que aplicasse algum remédio. O santo orou pelo tirano, e alçando o braço ainda a gotejar sangue, o abençoou e lhe alcançou de Deus a saúde do corpo e também a da alma, pois dai voltou a si e se converteu. 

De S. Melecio, patriarca de Antioquia, narra S. João Crisóstomo que, vendo o povo armado de pedras para lapidar o governador que o conduzia em seu carro ao exílio, se interpôs, o cobriu com seus braços e assim o livrou da morte. O Padre Segneri conta um exemplo ainda mais notável. 

Diz ele que em Bolonha foi assassinado o único filho de uma certa senhora de alta posição. O criminoso, perseguido pela justiça, refugiou-se em casa da mãe desolada. E que fez esta? Não contente de o ter escondido, lhe disse: Ora sus, já que perdi meu único filho, de hoje em diante ocuparás o seu lugar e serás meu filho e meu herdeiro. Toma, pois este dinheiro, e foge para outro lugar, porque aqui não estás seguro 

A vista destes exemplos talvez alguém diga: Eles eram santos e eu não tenho força. Sto. Ambrósio responde por mim: Se não tendes a virtude necessária, pedi a Deus e ele vo-la dará". 

Retirado do Livro: A Verdadeira Esposa de Cristo, por Santo Afonso de Ligório. 



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