3 — Como ofende aos Anjos o escândalo
Muito se fala de escândalo, mas poucos sabem o que se entende por essa palavra. Dar escândalo é, na definição da ascese católica, nada mais que oferecer a outros ocasião de pecado. “Isto, diz S. Tomás, de dois modos se pode fazer: ou diretamente, ou indiretamente” (2. 2. q. XLIII).
O escândalo é direto quando o escandaloso tem em vista a ruína espiritual do próximo.
É indireto quando não se tem em mente tão perversa intenção, mas apenas se prevê que ações ou palavras são ao próximo, ocasião de ruína espiritual, e não obstante se faz tal ação ou dizem tais palavras, sem que para isto haja uma justa razão.
Em ambos os casos, entretanto, o resultado ou fim, intencionado ou não, do ato escandaloso, é a ruína do próximo. E assim é o escândalo o maior dos males que a ele podemos fazer.
E pior é matar-lhe a alma e tirar-lhe a vida sobrenatural, que lhe custou o Sangue de Cristo, do que privá-lo da vida natural, que lhe custou simplesmente um ato de sua onipotente vontade.
O escandaloso é um assassino de almas e um esbanjador do Sangue de Cristo. O escandaloso deita a perder tudo o que Cristo sofreu de agonias e dores, de tormentos e injúrias, de injustiças e escárnios.
Se se pudessem ver as almas mortas, a muitas delas veríamos cobertas das feridas deixadas pelo punhal assassino do escandaloso.
Ora, o que não veem os nossos olhos, por não perceberem o que é espiritual, veem-no os Anjos de Deus, que são da mesma natureza de nossas almas. O seu horror, então, pelos que escandalizam os inocentes, é bem semelhante ao de Jesus Cristo, que pronunciou severíssimas palavras a esse respeito. Perguntaram-lhe certa feita os seus discípulos quem era o maior no reino dos céus. Chamou então, Jesus, a uma criancinha, colocou-a em meio deles e lhes disse que o maior no reino dos céus seria o que fizesse como aquela criança. E ajuntou depois: “aquele que escandalizar a uma dessas criancinhas, seria bem que fosse lançado no fundo do mar com uma pedra de moinho atada ao pescoço.”
A enérgica expressão de Nosso Senhor Jesus Cristo, traduz bem todo o horror que as almas santas sentem pelo escandaloso. Ora, os Anjos, são as criaturas mais santas que Deus já criou, excetuada Maria Santíssima. Quanto, pois, o pecado de escândalo os ofenda, bem se pode compreender.
Mas, além disso, ainda outros motivos mais particulares há pelos quais o escândalo seja ofensivo aos Anjos. E estes motivos são os meios de que usa o escandaloso, o chefe a cujos serviços se põe e o fim que tem em vista. Um, o Anjo, quer a salvação do homem, outro (o escandaloso) a sua ruína e condenação. Um, para esse efeito, sugere castos pensamentos, excita santos afetos, estimula a fugir do pecado e a praticar o bem, e o outro procura infundir nas almas perversas ideias, desperta as paixões mais vergonhosas nos corações, tudo faz para desencaminhar os bons.
Por fim, um é mensageiro de Deus, seu ministro e embaixador, outro sequaz do príncipe das trevas, seu agente e representante.
Portanto, foge, aborrece, abomina com todas as tuas forças ao pecado de escândalo, sumamente injurioso a Cristo, e ofensivo ao santo Anjo da Guarda.
E guarda-te, sobretudo, de escandalizar os inocentes, pois, diz Cristo Nosso Redentor: “os seus Anjos, no céu, sempre veem a face de meu Pai, que está nos céus: Angeli eorum, in coelis, semper vident faciem Patris mei, qui in coelis est.”[1]
[1] Mat. XVIII, 10. — Este lugar da Escritura é um dos mais evidentes e eficazes para demonstrar a verdade da guarda dos Santos Anjos. “Que cada fiel de Cristo seja assistido por um Anjo, diz S. Basílio, tal como de um preceptor e pastor a lhe reger a vida, ninguém o poderá contradizer, se se lembrar das palavras do Senhor, quando disse: “não desprezeis” etc. — Cont. Eunon. I, III
Fonte: A grande guerra blog
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