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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Do cuidado que devemos ter nas relações entre os homens e as mulheres.


“Mas José, seu esposo, sendo justo e não querendo expô-la, quis dispensá-la em segredo”.

(S. Mateus I, 19)


Hoje falaremos do cuidado que devemos ter nas relações entre os homens e as mulheres, entre os rapazes e as moças.

Há duas funções que estão ligadas diretamente à paternidade e, portanto, à masculinidade: providenciar os bens que são necessários e proteger as pessoas que lhe são confiadas.

O papel de proteger a honra das mulheres é um papel que cabe principalmente aos homens. É papel do marido e do pai proteger a dignidade da esposa e das filhas, e de assegurar que suas roupas sejam modestas e que elas tenham um comportamento moderado pela virtude da modéstia. Uma mulher que queira se vestir com modéstia terá dificuldades para fazê-lo se seu marido pouco se importa com isso ou, pior ainda, se ele é contra. Esta preocupação de São José em proteger a honra de Nossa Senhora é um exemplo claro de compreensão do papel que um esposo e um pai deve ter em zelar pela honra de quem lhe foi confiado, não querendo lesar a honra de Nossa Senhora diante dos outros.

Isso se dá também de modo indireto, porque um homem correto se afasta daquilo que ofende a modéstia. Uma moça que sabe que seu noivo é honesto e que quer agradá-lo, veste-se com modéstia, uma vez que a castidade está ligada à modéstia e faz com que os olhos sejam desviados de algo que possa ofender a pureza. Um rapaz virtuoso, se vê na noiva uma falta neste ponto, terminará se afastando dela, pois ele mantem a guarda dos sentidos. Se uma jovem quer ter um noivo e, portanto, um marido que não seja causa de muitas e graves infelicidades para ela e sua família, ela deve zelar pela própria modéstia.

Desejar encontrar um noivo ou uma noiva a todo custo é um erro tão grande que é difícil encontrar uma palavra que qualifique bem uma imprudência dessas. Escolher uma pessoa para ser marido ou esposa por toda a vida é uma decisão tão séria que só deve ser tomada depois de pedir conselho, de rezar muito e longamente (sobretudo diante do Santíssimo Sacramento), de ter se instruído bem sobre as responsabilidades que a vida de casado tem, as dificuldades comuns dela, o estado de espírito que se deve ter ao ingressar neste estado de vida, do espírito de sacrifício que a vida de casado pede e que é, pelo menos em certa medida, o eixo central do casamento (digo em certa medida porque em todas as coisas o mais importante é amar a Deus). Buscar um noivo ou uma noiva em uma festa, entre as pessoas comuns da faculdade ou do trabalho, em grupos de encontros, etc., é de uma imprudência sem medida. Em outra ocasião veremos o que é necessário para um noivado ser bem sucedido, e que casar não é uma loteria. Mas agora nos interessa ver como estes comportamentos afetam a modésia.

O medo, muitas vezes bem exagerado, de talvez não casar, faz com que muitas mulheres abandonem a modéstia, achando que assim garantem o casamento que querem. Elas casarão, sem dúvida alguma. Mas a vida em comum numa família exige qualidades que não se encontram em quem busca um marido ou uma mulher de modo impulsivo. E como o ser humano é racional, chega uma hora em que os graves defeitos do conjuge, tolerados no noivado por interesse ou não observados por causa da cegueira que a sensualidade dá, se tornam insuportáveis e nenhuma beleza ou dinheiro consegue amenizar estes problemas.

Conheço uma pessoa que casou-se e depois de separada viveu em concubinato mais duas vezes. Ela me disse uma vez: “O senhor não sabe o que é chegar em casa, olhar para o seu marido, e pensar: Este é o pai dos meus filhos?”. Aqui vemos que o problema não estava somente em quem ela havia escolhido para ser seu marido, pela primeira vez, mas ela também tinha um defeito grande me saber como escolher um marido. Uma moça que quer evitar um peso imenso desses deve saber que não se busca um rapaz pelo anzol da falta de modéstia, e que este é o melhor meio de encontrar um péssimo marido e de fazer um casamento fracassado.

Em segundo lugar, é certo que um rapaz que olha para uma moça atraído pela falta de modéstia dela, depois de casado também olhará para outras, atraído pela falta de modéstia delas. O número de padres que falam sobre isso nos seus manuais de moral, de pastoral e que dão testemunho disso é enorme. Uma moça e um rapaz que agem sem modéstia devem saber que se tornam ocasião de pecado também para pessoas casadas e que cooperam para destruir casamentos, o que é gravíssimo. Se não cooperam de modo imediato e pessoal, ajudam a fazer com que um dia isso aconteça, por facilitar o aparecimento e a aquisição dessa disposição. E isto nos faz tratar também da familiaridade que devemos evitar com pessoas do sexo oposto.

Pio XI, na encíclia Divini illius Magistri, sobre a educação da juventude, relembra princípios fundamentais. Primeiramente, os pais devem se lembrar da verdadeira natureza dos filhos que têm: “nunca se deve perder de vista que o sujeito da educação cristã é o homem inteiro; um espírito unido a um corpo, na unidade de natureza, com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais, tal como nós conhecemos pela reta razão e pela Revelação”.

Nós temos um corpo; mas não temos somente um corpo. Temos um espírito, mas não somos somente um espírito. Nem anjo, nem animal. “Um espírito unido a um corpo na unidade de natureza, com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais”. Eis o que nunca se deve perder de vista. Os pais não devem perder de vista, também, que os seus pequenos e estimados filhos, tão belos e tão bonitinhos, são todos eles filhos de Adão, o pecador, resgatados por Cristo e incorporados nele pelo batismo, mas carregando neles a consequência do pecado original: “É também o homem caído do seu estado original, (...) que não possui os privilégios preternaturais da imortalidade do corpo, da integridade e do equilíbrio de suas inclinações. Permanecem, na natureza humana, os efeitos do pecado original e, em particular, o enfraquecimento da vontade e a desordem de suas inclinações”. E “o grande erro (desse naturalismo na educação) é não querer admitir a fragilidade nativa na natureza humana, de fazer abstração desta outra lei, da qual o Apóstolo nos fala, que luta contra a lei do espírito: de ignorar as lições da experiência que mostram até a evidência que, especialmente entre os jovens, as faltas contra os bons costumes são menos um efeito da ignorância intelectual que da fraqueza da vontade exposta às ocasiões e privada dos socorros da graça”. “O homem, diz a escritura, é inclinado ao mal desde a infância”.

Se, para educar os filhos, os pais guardam muito claro na inteligência a verdadeira natureza deles: animais racionais, machucados pelo pecado original, redimidos por Cristo, mas carregando com eles as consequências do pecado original, então eles rejeitarão qualquer sistema de educação que não leve em conta as verdades reveladas. “Portanto, a Igreja nos diz, é falso qualquer naturalismo pedagógico que, de qualquer modo que seja, exclui ou tende a diminuir a ação sobrenatural do cristianismo na formação da juventude; é errôneo qualquer método de educação que se baseie, totalmente ou em parte, na negação ou esquecimento do pecado original ou do papel da graça, para apoiar-se somente nas forças da natureza”.

Por isso a Igreja sempre ensinou que não deve haver familiaridades entre homens e mulheres. Por causa da fraqueza humana, é colocar-se em ocasião de pecado, que será leve ou grave em função da intenção, da maior ou menor força que a ocasião tem para arrastar ao pecado, das circunstâncias. Pio XII, em um discurso de 22 de maio de 1941, dizia: “Ó, com que razão se observou que se certas cristãs suspeitassem as tentações e as quedas que elas causam em outros pelo modo com que se arrumam e as familiaridades, às quais elas dão tão pouca importância, na leviandade delas, elas se aterrorizariam da responsabilidade que têm” (Discurso às moças da Ação Católica de Roma, membros da cruzada da pureza).

É necessário ilustrar em que consistem estas familiaridades, de modo geral. Elas consistem em: trocas de presentes entre rapazes e moças, mesmo que sejam coisas bem pequenas como artesanatos, imagens, desenhos, etc., e manifestações de estima e de afeto sem motivo e sentimentais; ficar falando com alguém de outro sexo, sem motivo, ainda que não estejam sozinhos e que possam ser vistos por outros, porque vistos ou não, os afetos mútuos aparecem e influenciam depois o comportamento de ambos; cumprimentar as pessoas do outro sexo com familiaridade e uma proximidade que não convem, como beijos e abraços (exceção feita a certas pessoas da família).

Um rapaz não fica agindo de modo imodesto sobretudo na presença de outras moças: movimentos e gestos amplos, chamativos, falando alto, indo em direção a elas para fazer piadas e chamar a atenção, dando mostras de suas habilidades esportivas, etc. Uma moça não fica mexendo no cabelo o tempo inteiro porque tem outros rapazes por perto, ou tirando o espelho da bolsa, ou ficar andando de um lado para o outro, sozinha ou acompanhada de outras, ou falando alto, etc. Tudo isso mostra uma falta de controle da inteligência sobre si mesmo. Os rapazes e moças devem aprender, quando estão entre pessoas do mundo, como cumprimentar sem permitir familiaridades, guardando uma reserva e uma distância suficientes.

Dom Antônio de Castro Mayer, no seu já citado Catecismo das verdades oportunas que se opõe aos erros contemporâneos, condena a proposição seguinte: “Por um desígnio da providência, a maior parte das pessoas é chamada a viver no estado do matrimônio. As moças de colégio que namoram estão, pois, em seu caminho natural. Portanto, não se deve impedir que o façam” (proposição 60). Ele responde dizendo que os professores devem instruir os alunos para que saibam fazer uma escolha conforme à vontade de Deus. Diz, ainda, que devem impedir nas escolas tudo aquilo que seja um obstáculo aos estados de vida mais nobres e generosos, como a vida religiosa e o sacerdócio. Deixar os jovens livres para namorar seria entregá-los não a um amor perfeito, mas à sensualidade, seria destruir as pessoas que têm condições de seguir a vida sacerdotal e religiosa, seria destruir os futuros casamentos. A proposição condenada não distingue entre o amor que leva ao casamento e um comportamento imoral.; não distingue entre o amor na idade apropriada e entre aquele que acontece numa idade em que se é incapaz de casar. Só é possível defender a familiaridade entre rapazes e moças se fechamos os olhos para o dogma do pecado original. Quando vemos, no final da manhã, as portas dos colégios católicos tomadas por casais de namorados, como podemos nos espantar que não haja mais vocações, não só nos seminários mas também entre as religiosas?

É necessário ser realista e saber que não há amor platônico entre moças e rapazes. Os rapazes devem ter bem claro que uma moça é uma futura mãe. Que um dia ela será escolhida por alguém e que, um dia, ele escolherá alguém. Não se brinca, então, com o coração das moças. O mesmo princípio vale para as moças. Elas devem ver bem claro que um rapaz será um futuro pai e esposo.

Os rapazes devem saber que, pela imaturidade da adolescência, acabarão não sabendo se comportar com as moças e frequentemente as machucam sentimentalmente. Mais tarde, quando está mais maduro e decide casar, não sabe se comportar com uma moça e é enganado pela primeira moça que aparece. As moças devem saber que, por buscar um rapaz com quem possam namorar, que elas trabalham ativamente para destruir a própria imagem e correm o risco altíssimo de jamais serem estimadas por um rapaz de valor. As moças não conseguem estimar o tamanho do prejuízo que dão à própria pessoa e à própria honra quando agem de modo leviano.

A familiaridade entre rapazes e moças não prejudica os casamentos somente no fato de impedir uma escolha correta. O hábito adquirido de tratar com familiaridade o sexo oposto causa problemas depois do casamento. Gera, primeiramente, ciúmes no cônjuge, e isso pode ir bem longe e tornar a vida conjugal muito pesada. Gera ocasiões para adultérios, evidentemente, (que é um pecado gravíssimo) e são muitos os livros de moral e de teologia pastoral que o afirmam, porque adquiriu-se o hábito de sempre tratar qualquer um do sexo oposto com gentilezas que são perigosas.

Enfim, se uma mulher quer saber o que é um comportamento modesto, reflita sobre como Nossa Senhora se comportava. E se um homem quer saber como deve ser um comportamento modesto, veja como São José se comportava. Para os rapazes a devoção a São José e a consideração das virtudes dele é importantíssimo para que possuam as qualidades que um marido e um esposo precisa ter. E o mesmo vale para as moças quanto à devoção à Nossa Senhora. A Sagrada Família nos foi dada por Deus para nosso modelo e ajuda. Ide à casa de Nazaré e encontrai repouso alí. Jesus, Maria e José, salvai nossas famílias.

Padre Luiz Fernando Pasquotto
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.

3 comentários:

  1. Gostei do tema! Apesar de nos dias de hoje ser dificil, pois a imoralidade é cada vez maior, infelizmente, peço a Deus que tenha misericordia por tanta loucura!

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  2. Uma duvida que me veio a ler o texto.. Então nós mulheres não podemos ter amigos meninos? Claro que com muito respeito, sem as tais "familiaridades perigosas"

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  3. Texto com sábias palavras, hoje esse tipo de comportamento tem cada menos espaço. Vivemos numa civilização pós-cristã. O catolicismo se reduziu a Igreja e não mais na vida pública, no dia a dia. Então fica difícil agir de modo católico quando temos todo um ambiente que induz as pessoas a agir de forma contrária.

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