(...) Outro perigo do mundo consiste em levar aquelas que lhe querem agradar a se ataviarem com um luxo de vestuário extravagante, e a caírem na coqueteria, ou garridice, que é um desejo extremado de agradar pelo abuso dos enfeites. As jovens das classes mais modestas não estão isentas desta miséria!
O grande Fénelon temia muito este perigo para as jovens; por isso, no seu livro sobre a Educação, escreve:
“Nada temais tanto como a vaidade nas meninas: elas nascem com um desejo violento de agradar… aspiram à beleza e a todas as graças exteriores, são apaixonadas pelos adornos. Um chapéu, uma ponta de fita, um cacho de cabelo mais alto ou mais baixo, a escolha de uma cor, são para elas outros tantos negócios importantes.”
E esse defeito não se acha só numa certa sociedade, encontra-se mesmo entre as que fazem profissão de vida séria. Toda mulher é naturalmente coquete, ou faceira, andaria errada negando-o.
“A maioria das mulheres, diz Luís Veuillot, ficam na terra entre a graça e o pecado, que as disputam e que elas talvez sonhem conciliar. Na missa pela manhã, no baile à noite; querendo agradar e temendo agradar demais, sentindo este receio pela manhã mais do que à noite; mas dispostas, à noite, a arriscar-se a agradar demasiado do que a resolver-se, pela manha, a não agradar absolutamente; mui fácil e mui sinceramente tocadas de arrependimento, quando percebem que agradaram demais, porém de um arrependimento que não é sem doçura e sem um pouco de vontade de recomeçar.”
Aí está, pois, uma verdade que poderá desagradar, talvez, mas que é preciso ter a coragem de afirmar. Santo Ambrósio já dizia às mulheres do seu tempo: “Vede essas matronas que pintam o rosto porque receiam não agradar. Querem corrigir a natureza, e por isso mesmo se julgam e se condenam. Porquanto, ó mulher, que juiz mais sincero da tua fealdade teremos nós do que tu mesma que receias mostrar-te tal qual és? Se és bela, porque te disfarças? Se és feia, porque mentires aos olhos, no desejo de pareceres o que não é?”
Não se pode deixar de experimentar um profundo sentimento de tristeza pensando em que as moças passam uma porção considerável da sua existência em futilidades coquetes. Pode-se-ia crer que a cor de um vestido, a forma de um chapéu, um laço de fita se tornem negócio capital para uma cristã?
E no entanto … Sem dúvida, deve ela pensar num cuidado razoável do seu vestuário, numa certa elegância mesmo.S.Francisco de Sales quer que a sua Filotéia seja “a mais bem vestida, cntanto que seja a menos pomposa e a menos afetada“. Mas, quando uma moça é verdadeiramente coquete, esse terrível defeito estraga-lhe as mais belas qualidades e tira-lhe a sensatez, a modéstia e toda a seriedade que deveria ter a sua existência.
Vejamos as tristes conseqüências da coqueteira:
a) Prejudica a seriedade da vida.
Desde que o coração está cheio dessas bagatelas, dessas futilidades, toma-lhes emprestado qualquer coisa que o torna também fútil e vazio. Aos poucos a alma assume a feição das coisas que fazem objeto dos seus pensamentos habituais.
Que será da seriedade, do espírito cristão, que é um espirito de sacrificio, numa jovem constantemente ocupada com a sua “toilette”? Esses espírito extingue-se numa inevitável moleza, conseqüência do enfraquecimento do senso moral.
b) Faz perder um tempo considerável.
“Tempo é dinheiro“, dizem. É mais do que isso, pois é a moeda com que se compra o céu. Quanto tempo perdido no penteado, no vestuário, no enfeite de um corpo tornado um ídolo! Desperdiçar-se-ão nisso horas inteiras, e, quando Deus vier solicitar alguns minutos para a oração, a jovem coquete exclamará: Como? rezar? ir à Missa? ora! não tenho tempo!
c) Leva a despesas loucas.
Que luxo na nossa sociedade atual! Passa por ela como que um sopro que dá vertigem! Quanto dinheiro disperdiçado no vestuário, nos enfeites! Para ter uma jóia, um vestido, uma dessas mil frivolidades com que a vaidade lhe exorna a orgulhosa pessoa, a moça não recuará ante nenhuma despesa!
Por isso, quando a esses corações roídos pelo desejo de agradar e de se fazer notar, alguém vier estender a mão em favor das obras de caridade, colherá uma resposta azeda, egoísta e cruel; a coquete não recusará nada ao seu corpo, mas aos pobres, às almas que se perdem… ora!…os tempos estão tão bicudos! Pior do que isso! Muitas vezes, para satisfazer o seu pendor, uma coquete não hesitará em arruinar a família. Em casa, será o flagelo do marido, e, porque não dizer? também dos filhos; ela nunca se julgará com meios para educar filhos, tem um trapo de pano em lugar do coração.
d) É uma tolice e uma aberração.
No fundo a coqueteira tem por fim único procurar agradar. Por mais que a pessoa não o confesse a si, isto é verdade mesmo assim. Ora, como agradar aos outros senão por meio de qualidades amáveis? E essas qualidades a pessoa as tem ou não as tem. Se as tem, não há necessidade dos socorros da arte para que elas produzam seu efeito. Se não as tem, procurará então fingi-las. Neste caso a coqueteira não passa de uma mentira vulgar.
Há mais. A arte não pode dar as qualidades morais, que, em última análise, são as únicas duradouras, as únicas amáveis, as únicas que impressionam. Saberá imitar a natureza; mas então que outra coisa fará senão vos emprestar uma máscara?
Não há nada que valha o natural e a simplicidade. Suponde uma bela flor… cercai-a de fitas, derramai-lhe na corota perfumes capitosos; ficará ela mais atraente? Não! e nada mais tereis feito do que estragar uma belíssima obra de Deus!
e) Ela faz rir de si.
Sim, na frente far-vos-á a esmola de um sorriso, de um cumprimento lisonjeiro e mendaz; mas por detrás as pessoas sensatas vos apontarão com o dedo, rir-se-ão de vós, desferir-vos-ão epitetos que feriam de morte a vossa vaidade de pudésseis ouvi-los.
f) Leva com frequência ao desregramento.
Ela é que, com a preguiça, é a provedora habitual dessa podridão social a que se chama “demi-monde“. Rola naturalmente para essa ignomínia quando a paixão da “toilette” chega (e chega depressa) a dominar o cuidado da virtude e da honra.
g) Sede franca e, de boa fé, ide ao fundo das coisas.
Porque quererdes fazer “toilette” senão para atrair os olhares? Porque quererdes atrair os olhares senão para agradar, para vos fazerdes admirar, digamos o termo … para seduzir? Coqueteria, astúcia e sedução, eis aí, confessado ou não, o fim de todo vestuário muito rebuscado.
Se ainda só se tratasse de agradar o noivo desejado, talvez se vos pudesse desculpar. Mas quem deveras ama, quase não usa de tais meios, e muitas vezes a coqueteira, se tende a inflamar outrem, não se preocupa lá muito com as conseqüências. A pessoa é coquete não para outrem, mas para si; quer ser notada, lisonjeada, adulada, e aqui se trata apenas das mais honestas! Essa coqueteira que força o sentimento depois de realizar o enfeite, é a mais culpada de todas.
Mas então a gente terá de mal amanhar-se como um macaco, e de se fazer carrancuda, amuada, insuportável?… Não, não se vos diz isto, e, depois, mesmo assim acharíeis meios de ser coquetes! Não se trata absolutamente de mau gosto.
Não notais que as excentricidades da moda, o requinte nos vestuários, afeiam muito mais do que embelezam as que a elas se submetem? Ficai sendo, pois, aquilo que sois, e vesti-vos com simplicidade. O vestido, que deveria lembrar-vos a queda original, não deve tornar-se uma armadilha, a mais sapiente das astúcias, a mais pérfida das coqueterias a mais vulgar das seduções.
Fonte: Formação da donzela – Pe. Baeteman
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