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sábado, 3 de junho de 2017

Quereis ver o que sois, oh Cristãos? - Santo Afonso de Ligório

Um momento depois da morte


Considera, ó homem, que foste formado de terra, e à terra hás-de voltar. Dia virá em que hás-de morrer, ser lançado numa sepultura, entregue à corrupção e aos vermes, que te cobrirão, tornando-se o teu único vestido, conforme a expressão de Isaías (14,11):Operimentum tuum erunt vermes. Tal é a sorte reservada a todo e qualquer homem, quer nobre, quer plebeu, príncipe ou vassalo. Saída do corpo com o último sopro, a alma irá para a sua eternidade e o corpo se mudará em pó: Auferes spiritum eorum et deficient, et in pulverem suum revertentur (Ps. 103,29), <hás-de tirar-lhes o espírito que os anima; deixarão de viver e voltarão a ser pó.>


Representa diante dos teus olhos uma pessoa que acaba de morrer. Considera esse cadáver ainda estendido no seu leito, vê essa cabeça inclinada sobre o peito, esses cabelos desalinhados e ainda banhados do suor da morte; os olhos encovados, as faces cavadas, o rosto lívido, a língua e os lábios quase negros; todo o corpo inerte e frio. Sentem-se arrepios em presença deste quadro. Quantos ao verem um parente ou um amigo defunto mudaram de vida e renunciaram ao mundo!

Sobe de ponto o horror quando o cadáver entra em decomposição. Ainda não decorreram vinte e quatro horas sobre a morte desse jovem e já a infecção se faz sentir. É necessário abrir-se as janelas e empregar desinfectantes. Apressa-se a saída para a Igreja e o enterramento, com receio que empeste toda a casa. Se esse corpo é dum nobre ou dum rico, o cheiro que exala será ainda mais insuportável, nota Santo Ambrósio.

Eis pois, em que veio parar esse orgulhoso e libertino! Acolhido e estimado ainda há pouco nas reuniões agora só inspira repulsa e horror a quantos o vêem. Os próprios pais procuram afastá-lo de casa quanto antes: é encerrado num caixão e levado para a sepultura. Ainda há pouco talvez era admirado pelo seu espírito, pela sua delicadeza, pelas suas belas maneiras, pelos seus ditos jocosos, veio a morte e lançou sobre ele o esquecimento: pereceu a sua lembrança com o seu renome (Ps. 9,7).

Ao correr a notícia de sua morte, divergem as opiniões: dizem uns que ele geralmente era estimado; ajuntam outros que deixara a sua casa em bom estado. Estes lamentam a sua falta, porque perderam um benfeitor; aqueles folgam, porque a morte dele os fez melhorar de situação. Em breve deixará de ser objeto de conversas. Os próprios parentes a partir do dia da morte, não quererão que se lhe fale nele, seria avivar-lhes as feridas. Nas visitas de pêsames fala-se de outras coisas. Se um ou outro deixa escapar alguma palavra sobre o defunto, logo se lhe atalha: fazei-me um favor, não pronuncieis mais o seu nome na minha presença.

Considerai agora que isso mesmo que tendes praticado na morte dos vossos parentes e amigos, outros praticarão quando vós morrerdes. Os que vos sobrevivem entram em cena, para representarem o seu papel e gozarem os bens e os lugares, que os mortos lhes deixaram. Destes não se importam; lançam-nos ao esquecimento. Nos primeiros tempos, ainda os vossos parentes lamentarão a vossa morte, mas isso será apenas por alguns dias. Recebida a herança que lhes couber, em breve se resignarão e até se darão por satisfeitos. Naquele mesmo quarto em que destes a alma a Deus, em que Jesus Cristo proferiu a vossa sentença, aí se dançará, se comerá, se folgará e rirá como antes. E a esse tempo, onde estará a vossa alma?

Trecho retirado do livro MÁXIMAS ETERNAS; De Santo Afonso Maria de Ligório.
Pg 7,8 e 9.

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