Que se deve manifestar no porte e na atitude das diferentes partes do corpo.
Capítulo I. Do Porte e da Atitude de todo o corpo
O que mais contribui para dar aparência exterior a uma pessoa e torná-la digna de consideração por sua modéstia, como pessoa decente e bem ordenada é quando ela mantém todas as partes do corpo na situação que a natureza ou o costume lhes prescreveu. Para isso, devem-se evitar várias faltas na atitude das partes do corpo, a primeira das quais é a afetação e a falta de naturalidade que torna uma pessoa empolada em seu exterior e que é completamente contra a cortesia e contra as regras da modéstia.
Também é preciso evitar certa negligência, que faria aparecer vileza e moleza na vida e que torna uma pessoa desprezível, porque esta má qualidade manifesta certa baixeza de espírito como de nascimento e de educação. Deve-se também prestar uma atenção todo especial para não manifestar nada de leviano na atitude, o que é o efeito de um espírito volúvel. Os que têm o espírito naturalmente volúvel e confuso, se quiserem corrigir-se disso, devem fazer de maneira que não remexam um só membro do corpo sem atenção, e fazê-lo somente com muita reserva. Os que por temperamento são ativos e precipitados, devem procurar nunca agir a não ser com grande moderação, a pensar antes de agir, e a ter o corpo, quanto possível, na mesma atitude e posição. Embora não se deva fazer nada de estudado no exterior, deve-se contudo saber guardar a justa medida em todas as atividades e regular o porte de todas as partes do corpo.
É isto que se deve ensinar às crianças com muito cuidado, e ao que os pais, por o terem negligenciado demais em formá-las desde pequenas, devem se aplicar de maneira particular, até que estejam acostumadas e essas práticas se lhes tenham tornado fáceis e como naturais. No porte de uma pessoa sempre é necessário algo de ponderado e majestoso: mas deve evitar cuidadosamente tudo o que indica orgulho e altivez de espírito, pois isto desagrada extremamente a todas as pessoas. O que deve produzir essa ponderação é somente a modéstia e a sabedoria que um cristão deve manifestar em todo seu comportamento. Como ele é de alto nascimento, porque pertence a Jesus Cristo e é Filho de Deus, que é o Ser supremo, não deve ter nem manifestar nada de vil em seu exterior, e tudo nele deve ter certo ar de elevação e de grandeza, que tenha alguma relação com o poder e a majestade do Deus a quem serve e que lhe deu o ser, mas que não venha de estima de si mesmo e de preferência aos outros. Pois todo cristão se deve conduzir de acordo com as regras do Evangelho, por isso deve mostrar honra e respeito a todos os outros, considerando-os como filhos de Deus e os irmãos de Jesus Cristo, e ao se considerar como um homem carregado de pecados, deve humilhar-se continuamente, e se colocar abaixo de todos. Ao estar em pé, deve-se manter o corpo ereto, sem o inclinar para um nem para outro lado, e não se curvar para frente como um ancião que não se pode sustentar mais.
Também é muito indecente endireitar-se com afetação, apoiar-se contra uma parede ou contra qualquer outra coisa, contorcer o corpo e se alongar com indecência. Quando se está sentado, não se deve estender-se preguiçosamente, nem apoiar firmemente contra o encosto da cadeira. É indecente estar sentado baixo ou alto demais, a menos que não se possa fazer de outra maneira, em geral é melhor estar sentado mais alto do que baixo demais; mas quando se está em companhia, sempre se deve dar os assentos mais baixos e mais cômodos principalmente às mulheres. O frio nem qualquer outro incômodo ou sofrimento devem nos fazer tomar uma postura indecente, e é contra a cortesia manifestar por seu exterior de que se tem algum incômodo, exceto se não se pode fazer de outra maneira. Também é sinal de demasiada sensibilidade e delicadeza quando não se pode sofrer nada sem o manifestar no exterior. (...)
Capítulo XIII. Das partes do corpo que se devem esconder e das necessidades naturais
A cortesia e o pudor exigem que se cubram todas as partes do corpo, exceto a cabeça e as mãos. É indecente ter o peito descoberto, os braços nus, as pernas sem meias e os pés sem sapatos. Até mesmo é contra a Lei de Deus descobrir algumas partes do corpo que o pudor bem como a natureza obrigam a manter escondidas. Deve-se evitar com cuidado e quanto possível, colocar a mão descoberta sobre todas as partes do corpo que ordinariamente não estão cobertas e, caso houver necessidade de tocá-las, que seja com precaução. Já que devemos considerar nossos corpos como templos vivos em que Deus quer ser adorado em espírito e em verdade, e tabernáculos que Jesus Cristo se escolheu para sua morada, devemos também ter-lhes muito respeito, em vista de tão belas qualidades que possuem. E esta consideração é que nos deve levar especialmente a não tocá-los e mesmo a não os olhar sem necessidade indispensável. É bom acostumar-se a sofrer vários pequenos incômodos, sem se voltar, esfregar, nem arranhar, sem se remexer e sem manter outra atitude que seja indecente, pois todas essas ações e posturas inconvenientes são completamente contrárias ao pudor e à modéstia. Ainda mais contrário à cortesia e a honestidade é tocar ou ver outra pessoa, especialmente se é do sexo diferente, o que Deus proíbe ver em si mesmo. Daí resulta que é muito indecente olhar o seio de uma mulher, e mais ainda tocá-lo, e nem sequer é permitido olhar fixamente no rosto dela.
As mulheres devem também tomar muito cuidado de cobrir decentemente todo o corpo e cobrir o rosto com um véu, de acordo com o conselho de São Paulo, visto que não é permitido deixar ver em si o que não é livre nem decente que os outros o olhem. Ao estar deitado, deve-se procurar manter uma postura decente e tão modesta que quem se aproximar não possa ver a forma do corpo; também se deve ter cuidado de não se descobrir de tal maneira que se deixe ver nenhuma parte do corpo nu e que não esteja muito decentemente coberta. (...)
Capítulo II (Segunda Parte do livro). Da maneira de se vestir e desvestir
O pecado foi que nos colocou na necessidade de nos vestir e cobrir nosso corpo com roupa. Por isso é que, como sempre levamos conosco a qualidade de pecadores, nunca devemos aparecer, não somente sem roupa, mas até sem estar completamente vestidos. É o que o pudor e a Lei de Deus exigem. Embora muitas pessoas se deem a liberdade de estar frequentemente de pijama sem qualquer outra roupa, às vezes até de chinelos, e embora pareça permitido fazer tudo vestido assim, contanto que não se saia fora de casa, deve-se contudo ter um exterior muito negligente ficar por muito tempo vestido assim. Parece ser contra os bons modos vestir o pijama por comodidade assim que se volta para casa e se deixar ver vestido assim. Somente os anciãos e pessoas doentes podem fazer isso. Até seria faltar de respeito a qualquer pessoa que não fosse inferior, receber uma visita nesse estado. Mais indecente ainda é não usar meias na presença de alguém ou só ter o corpo todo coberto pela camisa ou uma simples bermuda. Não se pode suportar ter uma boina de dormir quando se está fora da cama, exceto quando se está enfermo, porque ele é feito só para ser usado durante o repouso. É muito conveniente acostumar-se a nunca falar a alguém a não ser com os serventes da casa, sem estar vestido com todas as roupas ordinárias; isto é próprio de um homem honesto e bem correto em sua conduta. A honestidade também requer vestir-se prontamente e tomar a roupa que mais cobre o corpo para ocultar o que a natureza não quer que apareça. Sempre se deve fazer isso por respeito diante da majestade de Deus que sempre se deve ter diante dos olhos. Há mulheres que precisam de duas a três horas e algumas mesmo manhãs inteiras para se vestirem. Delas se poderia dizer com acerto que seu corpo é seu Deus e que o tempo que empregam para se enfeitar elas o roubam Àquele que é seu único vivo e verdadeiro Deus e ao cuidado que precisam tomar de sua família e de seus filhos, que sempre devem considerar como deveres indispensáveis de seu estado. Sem dúvida, elas não podem agir assim sem se oporem à Lei de Deus. (...)
O meio de limitar a moda no tocante ao vestuário e impedir os que a seguem de se excederem é submetê-la e reduzi-la à modéstia que deve ser a regra do comportamento de um cristão em tudo o que se refere ao exterior. Para ter roupa modesta é preciso que nela não haja qualquer aparência de luxo, nem vaidade. Também é sinal de baixeza de espírito apegar-se a certas roupas, procurar as mais vistosas e suntuosas; e quem o faz se torna desprezível da parte de todas as pessoas de bom senso. Mas o que muito mais importante é que renunciam publicamente às promessas contraídas no Batismo e ao espírito do Cristianismo. Pelo contrário, quem despreza esta espécie de vaidades manifesta que tem um coração grande e um espírito muito elevado. Com efeito tais pessoas manifestam que estão mais interessadas em adornar sua alma com virtudes, do que satisfazer seu corpo; e manifestam pela modéstia de seu vestuário, a sabedoria e a simplicidade de sua alma. Como as mulheres são naturalmente menos capazes de grandes coisas do que os homens, elas também estão mais sujeitas a procurar a vaidade e o luxo no vestuário do que os homens. Por isso é que São Paulo, depois de um esforço para exortar os homens a evitarem os vícios mais grosseiros em que eles caem mais facilmente do que as mulheres, recomenda no fim às mulheres que se vistam modestamente, não se enfeitem de ouro, nem de pérolas, nem se roupa suntuosa; mas se vistam como devem fazê-lo mulheres que mostram por suas boas obras, que professam a piedade. Depois desta regra do grande Apóstolo, não há mais nada a prescrever aos cristãos, a não ser que a sigam e imitem nisso os cristãos dos primeiros séculos, que edificavam toda a gente pela modéstia e a simplicidade de seu vestuário. Para os homens é vergonhoso o que se encontra algumas vezes, ser efeminados a ponto de se vangloriarem de sua roupa de muito valor e quererem atrair a consideração por isso. Eles deveriam elevar seu espírito mais alto ao pensar que a roupa é sinal vergonhoso do pecado; e ao se considerarem como nascidos para o céu, deveriam ter cuidado para tornarem sua alma bela e agradável a Deus. Este é o conselho que São Pedro dá às mulheres, dizendo-lhes até que desprezem o que aparece por fora e não se enfeitem em nada com roupa vistosa, mas enfeitem por dentro o coração da pessoa, por meio da pureza incorruptível de um espírito tranqüilo e modesto, riquíssimo diante de Deus.
[1] Tirado inteiramente dos escritos de São João Batista de La Sale, escrito para uso das escolas cristãs. Livro: As Regras de cortesia e civilidade cristã. (Sem acréscimos; Grifos nossos).
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