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quarta-feira, 22 de julho de 2015

[Sermão] Inimigos da Família: feminismo, má educação, falta de oração

Sermão para a Festa da Sagrada Família
Primeiro Domingo depois da Epifania
13 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Fazei, Jesus Cristo, com que nós sejamos instruídos pelos exemplos da vossa Santa Família e consigamos alcançar a sua eterna companhia.”

Festejamos, hoje, caros católicos, a Sagrada Família, constituída por São José, Maria Santíssima e Nosso Senhor Jesus Cristo. É essa família, a Sagrada Família, que deve servir de modelo para toda e qualquer família. A Sagrada Família é exemplo para os pais e para os filhos, sobretudo nesses dias em que a instituição da família se encontra tão ameaçada e é tão desprezada. A família é de suma importância e, sobretudo, a família cristã, pois é da família que procede a sociedade civil e até mesmo a Igreja. A família proporciona ao Estado novos cidadãos e à Igreja, novos filhos de Deus. Suprimi a família e um golpe mortal será dado na sociedade civil e um duro golpe será dado na própria Igreja. O mal da família é o mal da sociedade. O mal da família traz muitos males para as almas.

A família é hoje ameaçada por vários inimigos. Gostaria de tratar de alguns inimigos que, com frequência, não são devidamente levados em conta. Não tratarei aqui de alguns inimigos óbvios e gravíssimos, como a mentalidade contraceptiva, a contracepção e o aborto que solapam os fundamentos da família, pois se opõem ao fim primário da mesma, que é a geração e a educação dos filhos. Também não tratarei do divórcio, que se opõe à indissolubilidade do matrimônio e que tanto prejudica a educação dos filhos e destrói o amor e o auxílio mútuo dos cônjuges. Não tratarei da fidelidade, que se opõe mais uma vez à boa educação dos filhos e ao auxílio e amor mútuos. Não tratarei das uniões contra a natureza, que não podem constituir uma família, mas que constituem pecado que clama aos céus.

O primeiro inimigo da família de que quero tratar hoje, ainda que brevemente, é o feminismo, que quer igualar a mulher ao homem. Ora, a família é a sociedade doméstica e como toda sociedade, ela precisa necessariamente de um chefe, e como em toda sociedade, seus membros têm funções distintas. O feminismo se opõe justamente a isso. O feminismo quer igualar a mulher ao homem, como se a mulher tivesse dignidade somente ao fazer o que faz o homem. Ora, isso é justamente a destruição da mulher e daquilo que a mulher tem de próprio, sua feminilidade.

O feminismo diz que a mulher, com suas qualidades específicas de mulher, não tem valor, e que para ser digna, ela precisa se igualar ao homem. Ao contrário, a mulher encontra sua dignidade na função que lhe foi dada pelo criador, função que é diferente da função do homem. As funções da mulher e do homem são claras no Gênesis. A função da mulher é, antes de tudo, ser mãe, gerar os filhos e educá-los, sobretudo quando são pequenos. Não é à toa que é a mãe quem carrega o filho durante nove meses e o alimenta. A mulher tem essa função e ela tem, evidentemente, nos traços psicológicos e físicos de sua feminilidade, as qualidades para praticar bem essa função. Ela tem, em particular, uma sensibilidade muito maior que a do homem e, se é bem ordenada, essa sensibilidade é essencial para a família.

O homem, por outro lado, recebeu de Deus a Missão de ser o chefe da sociedade doméstica e de lhe assegurar o sustento e recebeu as qualidades para tanto. É para Adão que Deus diz que será preciso ganhar o alimento com o suor de seu rosto… não é para a mulher. O homem é chefe, mas não um tirano, e deve governar com caridade não para o seu próprio bem, mas para o bem da esposa e dos filhos, para que todos cheguem à vida eterna. Se São Paulo diz que a mulher deve ser submissa ao marido, ele diz também que o marido deve amar sua esposa, isto é, ele deve governar tendo em vista o bem dela (bem espiritual, antes de tudo), reconhecendo nela uma verdadeira companheira de vida e um complemento para sua perfeição.

Cada membro de uma sociedade encontra sua dignidade e sua perfeição ao praticar bem a sua função. A diferença de funções entre homem e mulher não supõe maior perfeição ou maior dignidade, mas simplesmente características diferentes no homem e na mulher. Características que se complementam para aperfeiçoar ambos e para bem educar os filhos. Renunciar às características próprias de cada sexo é prejudicar a si mesmo, é prejudicar a sociedade doméstica, é prejudicar os filhos. Portanto, a dignidade da mulher consiste em gerar e educar os filhos. Gerá-los e educá-los naturalmente. Mas, sobretudo, gerá-los e educá-los para a vida eterna, ensinando aos filhos o amor a Deus desde a mais tenra idade. Claro que o pai deve participar da educação dos filhos, mas ele o faz de modo diverso, com uma influência, em geral, menor, embora essencial.

O que vale mais para uma mulher? Fazer carreira ou ver os filhos cheios de virtudes? É evidente que a mulher é capaz de trabalhar e de competir com o homem no mercado de trabalho e ninguém nunca duvidou disso. Mas é esse o seu objetivo? Consiste nisso a sua verdadeira dignidade e perfeição? Certamente, não. Infelizmente, vivemos em um mundo em que a maioria das mulheres se veem forçadas a trabalhar por diversas razões, muitas vezes puramente econômicas, pois dificilmente não se paga a uma só pessoa o necessário para sustentar toda a família. Todavia, sendo possível, a mãe deve dedicar-se inteiramente aos filhos, não para mimá-los, mas para educá-los, instruí-los, formar a consciência deles. Claro, isso não sendo possível, Deus suprirá, se a mãe se esforça para bem educar os filhos apesar de sua ausência necessária. Como consequência do feminismo, as mulheres são cada vez mais masculinizadas e os homens cada vez mais feminilizados. Isso traz grandes prejuízos para a própria pessoa, para a família, para a sociedade. Portanto, na família, cada um cumpra bem a sua função, pois nisso consiste a dignidade e a perfeição da mulher e do homem, nisso está o bem da mulher e do homem.

O segundo inimigo da família de que quero tratar hoje é o fato dos pais já não saberem como educar os filhos. A educação é uma arte e uma arte ninguém nasce sabendo. É preciso aprender, é preciso se instruir nessa arte. É preciso ler bons livros sobre educação católica, como o livro “Educação com êxito” e “A arte de educar as crianças de hoje” do Padre G. Courtois, por exemplo (ambos podem ser encontrados para download na internet, bem como os livros de Dom Tihamer Toth, que também podem ser encontrados para download). Para conhecer os princípios da educação, aconselho também a leitura e a aplicação do que falei em sermão anterior, sobre a “Educação católica dos filhos”. Uma educação levada à marra, sem experiência e sem instrução de como proceder, não pode dar certo.

Na educação, um grande problema é que os pais não sabem exercer a autoridade e terminam perdendo-a. Já não sabem fazer que os filhos obedeçam, já não sabem mandar. Para ser obedecido, é preciso que as ordens sejam sóbrias (poucas de uma só vez, sobretudo para crianças), que as ordens sejam claras e dadas com afeto, mas também com firmeza. Os pais não devem pedir ao filho que obedeça. Isso é um contrassenso, um absurdo. Um superior não pede, não roga ao inferior que obedeça: “obedeça, por favor”. Pedir algo ao filho lhe desorienta o espírito, pois ele pensará que não deve obediência aos pais, justamente, mas que está fazendo um favor. E hoje, em razão disso, muitos são os filhos tiranos. Vale melhor dar ordens desde início do que ter de mudar de tom depois. Os pais também não devem negociar com os filhos, condicionando o cumprimento de algo a um prêmio. “Se fizer isso, te dou uma bala.” “Se comer tudo, te dou um brinquedo.” E se o filho, então, não quiser a bala ou chocolate, não precisa fazer o que está sendo pedido? Os pais vão formar um bom negociante ou comerciante, mas não uma pessoa de caráter firme. Que tipo de autoridade é essa? Os pais não devem, tampouco, retirar suas ordens diante de insistências ou intimidações, chantagem emocional, gritos, lágrimas, etc.

Os pais evitem se contradizer nas ordens, a não ser que seja estritamente necessário, a fim de evitar um problema grave. Se as ordens são desencontradas, as crianças saberão recorrer ao mais favorável ao seu gosto e a autoridade de ambos será prejudicada. Os pais devem ter autoridade, uma autoridade que é inteiramente voltada para o bem dos filhos, mas uma verdadeira autoridade, capaz de dar ordens que são obedecidas, ordens sóbrias, claras, com afeto, reflexão e calma. É preciso exercer essa autoridade que forma na alma dos filhos a virtude. Aos filhos, claro, cabe obedecer, pois Deus colocou os pais para guiá-los no caminho da virtude.

Um outro inimigo da família são os filmes, os romances, os espetáculos, os programas de televisão. Primeiro, porque a maioria esmagadora contém doutrinas ruins, imoralidades, palavras ruins, e todo tipo de coisa que se opõe ao bem da alma e da família. Segundo, porque ainda que não tivessem nada disso, a assistência frequente a essas coisas colocam o espírito em um mundo irreal e fictício, criando um aborrecimento e descontentamento com relação ao mundo real, com a família, com o Criador, que é Deus. “Ah, no filme, na novela, fulana tinha problema com o marido, ela se separou, juntou com o ciclano e eles viveram felizes. Estou enfrentando dificuldades no meu casamento… será que não poderia fazer como a fulana da novela, do filme… é tão simples…?” E com isso fica facilmente esquecido o contrato e as promessas feitas no matrimônio. São João Crisóstomo já falava disso a propósito dos espetáculos em sua época, há mais de 1500 anos. Isso serve também para as crianças e os desenhos e as histórias infantis completamente fictícias. A ficção pode ser boa e lícita, mas nunca em excesso e jamais com ensinamentos ruins, como acontece na maioria dos casos. É preciso procurar para as crianças histórias que edifiquem. E não se diga: não tem problema, pois as crianças não entendem nada. As crianças entendem bastante coisa e guardam muita coisa e têm a consciência paulatinamente formada por isso. As diversões das crianças, em geral, devem favorecer o raciocínio e o mérito e não simplesmente a sorte e a sensibilidade.

Outros grandes inimigos da família são a falta de oração em família e os hábitos mundanos. Nossa Senhora de Fátima pediu que se rezasse o terço em família. É preciso encontrar durante o dia vinte ou trinta minutos para rezar o terço em família. A oração é a base da vida espiritual. O terço e outras orações em família são a base de um matrimônio sólido, fiel ao compromisso assumido diante de Deus. Os hábitos mundanos conduzem a família a se preocupar com tudo, salvo com a salvação eterna. É preciso adquirir hábitos salutares, práticas de devoção familiares, hábitos de estudo da religião católica, de mortificação. A prática da religião não pode se resumir a evitar os pecados mortais e a vir à Missa aos domingos.

Tudo isso não é invenção minha, mas é a autêntica doutrina dos teólogos, dos Santos, do Magistério da Igreja, com base na Lei Natural e na Revelação. Eu simplesmente transmito aquilo que recebi da Igreja.

Olhemos o exemplo da Sagrada Família. É o plano a ser seguido pela família. A finalidade da família é que todos os seus membros cheguem ao céu. Para tanto, é preciso gerar e educar os filhos segundo as leis da Igreja, é preciso uma vida de oração sólida, é preciso uma vida centrada em Deus e não no mundo, é preciso que seja observada a hierarquia no matrimônio entre homem e mulher, entre pais e filhos, hierarquia que pertence à lei natural e que foi também Revelada por Deus. Somente seguindo o modelo da Sagrada Família uma família poderá ser verdadeiramente feliz, pois se possuirá o verdadeiro bem, que é Deus. Isso não significa a ausência de problemas e provações, mas a disposição de resolvê-los e enfrentá-los tendo em vista sempre a eternidade e a salvação da alma.


“Fazei, Jesus Cristo, com que nós sejamos instruídos pelos exemplos da vossa Santa Família e consigamos alcançar a sua eterna companhia.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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