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domingo, 29 de março de 2015

Praias e Piscinas - Padre Luiz Fernando Pasquotto

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" (...) No último sermão foram lançados os princípios que devem dirigir o modo com que devemos nos vestir. Isto nos faz tratar, então, das praias e piscinas. Agora que conhecemos os princípios apresentados no último domingo, a questão das praias e piscinas torna-se fácil de ser avaliada. Mas um sermão tratando diretamente desta questão se mostra necessário. Por quê? Porque, por mais espantoso que possa parecer, a confusão das consciências chegou a uma dimensão tão grande que até os melhores católicos, com famílias numerosas (e, portanto, fidelíssimas aos deveres que assumiram diante de Deus no dia do casamento), com grande conhecimento da doutrina e dotados de grande zelo apostólico, não vêem mal algum no modo como as pessoas fazem uso atualmente das piscinas e praias.

Entretanto, o magistério eclesiástico e os moralistas já trataram desta questão, com grande clareza, inclusive. A verdade é que estas instruções foram largamente ignoradas e, hoje, é praticamente impossível encontrar alguém que não vá às piscinas e praias. Com raríssimas exceções, praticamente todos os católicos vão. Afirmar que haja um grande problema no modo como as pessoas frequentam estes lugares hoje é colocar-se como alvo de críticas garantidas. Por isso, ainda que os princípios expostos no último domingo sejam claros, veremos o que disseram o magistério eclesiástico e os teólogos sobre a questão, para que nossas conclusões não sejam vistas como opinião pessoal exagerada e rigorista, mas fique amparada e sustentada pela autoridade dos bispos e de excelentes teólogos: "Quem vos ouve, ouve a mim" (S. Lucas 10, 16).

Hoje cometem-se gravíssimos escândalos nas praias e piscinas. Em 1954 a Sagrada Congregação do Concílio (que hoje é a Congregação para o Clero) escreveu uma carta aos bispos do mundo inteiro, na qual se lê: "Ninguém desconhece, com efeito, como, principalmente durante o período de verão, em qualquer lugar que seja, contemplam-se espetáculos que não podem deixar de ofender a vista e o espírito de quem não renunciou à virtude cristã e ao humano pudor. Não só nas praias e nos lugares de veraneio, mas também em quase toda a parte, nas ruas das cidades, privada e publicamente, e, com freqüência, mesmo também nas igrejas, generalizou-se um vestuário indigno e desavergonhado, que põe a juventude – facilmente inclinada ao vício – em gravíssimo perigo de perder sua inocência, máximo ornamento, e o mais precioso, de sua alma e de seu corpo".

O grande desprezo pela modéstia cristã nestes lugares levou o bispo de Cádiz-Ceuta, Dom Tomás Gutiérrez Díez, a escrever uma Carta pastoral aos seus fiéis em 21 de julho de 1951, dizendo que "a realização de banhos mistos [isto é, com a presença de homens e mulheres no mesmo lugar] deve ser proibida para qualquer pessoa cristã". De modo semelhante, em 8 de julho de 1950, Dom Antonio García y García, Arcebispo de Valladolid, escrevia também uma diretriz pastoral para seus fiéis: "(...) que todos os nossos fiéis saibam: 1) Que todas as roupas de banho devem sempre ser honestas, e que o maiô certamente não o é; 2) Que todos aqueles que nas praias ou fora delas exibem a nudez provocativa pecam com um duplo pecado de imodéstia e de escândalo. E é sabido o que disse Jesus Cristo a respeito do escandaloso: Mais valeria que se lhe colocasse uma pedra de moinho ao pescoço e lhe atirassem no fundo do mar. É forte a sentença que o Mestre divino formulou sobre os escandalosos. 3) Que as praias em que se banham juntamente homens e mulheres, e a nudez é provocativa, constituem de si ocasião de pecado grave para aqueles que a freqüentam. 4) Que nas praias deve haver completa separação de sexos para aqueles que estejam em traje de banho. Se esta separação não existe, ninguém pode estranhar que homens e mulheres sejam mutuamente objeto de tentação e de perigo para a limpeza de suas almas. 5) Que é muito doloroso e lamentável que as pessoas que nas praias se distinguem por sua imodéstia não sejam somente as mundanas, livres e atrevidas ou duvidosas, mas também outras dadas, exteriormente ao menos, à piedade, e às vezes as que comungam com freqüência e têm seu nome ligado às instituições beneficentes ou piedosas."

As vestes usadas e a excessiva liberdade destes lugares constituem um perigo imenso: "Quem ama o perigo, nele perecerá" (Eclesiástico 3, 27). Além disso, não se pode pensar que tal perigo diminui com o hábito, porque nas pessoas, especialmente nos jovens, o espetáculo contínuo de praias e piscinas, ainda que talvez não leve a pecados naqueles momentos, enfraquece sempre o pudor natural e faz com que uma pessoa comece a se permitir, com facilidade, muitas pequenas faltas, que levam a faltas maiores. Assim, as paixões não diminuem, mas aumentam em tais lugares, e o relaxamento espiritual é uma consequência certa.

O Episcopado argentino, preocupado também pela onda de imoralidade nestes temas, ditou em junho de 1933, um Decreto que diz: "Considerando com grande dor de nossas almas os gravíssimos danos espirituais que leva ao povo cristão a difusão da imoralidade pública em todas as suas manifestações; e tendo presente as instruções e decretos emanados da Santa Sé durante estes últimos anos; além disso, querendo estabelecer em alguns pontos normas práticas e concretas, que sirvam tanto aos fiéis como aos diretores de almas para ajustar os costumes externos de uma vida verdadeiramente cristã: Os Bispos, reunidos para velar pelo bem das almas que Nos foram destinadas, estabelecemos que não são conformes com a conduta cristã: 1) (...) a mistura simultânea de sexos nas piscinas públicas de natação e em certas diversões em que o traje é completamente inadequado (...)".

O I Sínodo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, convocado, presidido e promulgado pelo Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara em 1949, diz no artigo 499: "A frequência a praias ou piscinas públicas não pode deixar de ser veementemente condenada como atentatória à moral, salvo quando houver a possibilidade de conciliar-se: a) lugar discreto, ou hora não frequentada indistintamente por todos; b) traje decente; c) companhia escolhida, e nunca mista". O mesmo ensinamento havia sido dado antes pela Sagrada Congregação do Concílio na instrução de 12 de janeiro de 1930, n. 3 (AAS XXII, p. 23) e em duas cartas pastorais escritas pelo mesmo Cardeal, em 2 de fevereiro de 1947 e 11 de fevereiro de 1948.

Dom Antônio de Castro Mayer, no seu "Catecismo de verdades oportunas que se opõem a erros contemporâneos", publicado em Campos no dia 6 de janeiro de 1953, apresentou a proposição seguinte como condenável: "Constitui moralismo retrógrado proibir aos fiéis a frequentação de bailes, dancings e piscinas. Alimentados pela piedade litúrgica, eles podem frequentar esses ambientes sem temor, e aí praticar o apostolado de infiltração irradiando o Cristo com sua presença" (proposição 11). Contra esta afirmação ele afirma que "não há espiritualidade que imunize o homem contra o perigo das ocasiões próximas e voluntárias de pecado, das quais deve abster-se ainda que com grave prejuízo". E completa: "O apostolado exercido com risco próximo da salvação é temerário e não pode contar com as bençãos de Deus".

No mesmo documento ele apresenta outra proposição como condenável: "Não se devem proibir decotes, maiôs, e outros modos de trajar que mostrem muito o corpo, pois o corpo é bom em si mesmo, foi criado por Deus, e não precisa ser escondido" (proposição 54). Esta proposição será classificada por ele como sendo de um "naturalismo visceralmente anticatólico".

Os banhos entre pessoas do mesmo sexo devem guardar as regras de decência e dignidade nos modos, trajes, etc. Os roupas de banho devem ser de tal tecido e cor que não se tornem justas e transparentes. Elas não podem ser causa de escândalo e tentação para as outras pessoas. Não é lícito a um católico ir a piscinas públicas, por causa da presença indistinta de homens e mulheres em pouco espaço físico, frivolidade, leviandade e liberdade excessiva que o ambiente favorece. Para o banho nas piscinas privadas, deve-se respeitar sempre a separação entre homens e mulheres e, em casas de família, entre os irmãos a não separação dos sexos pode ser lícita na infância.

Poderíamos citar aqui, ainda, os padres Antonio Arregui e Antonio Royo-Marin, que falam explicitamente das piscinas e praias em seus manuais de moral, repetindo o que já citamos da parte dos bispos.

Muitas vezes ouvimos argumentos que defendem a ida a estes lugares, e aqui responderemos a alguns.

a) Mas, padre, eu vou a estes lugares com boa intenção. Eu respondo que esta boa intenção precisa ser examinada. Que intenção boa é essa, que não se conforma às regras fundamentais da modéstia e da temperança? Além disso, admitindo que a intenção seja reta, de se divertir sem malícia, ela não pode mudar de nenhum modo a natureza das coisas, não pode fazer que o que é mau, moralmente, seja bom. Se as circunstâncias que o rodeiam são más não é lícito ir a estes lugares.

b) Há jovens que são muito piedosos, que frequentam os sacramentos, que vão à Missa todos os domingos e, contudo, vão à piscina e à praia. Ir nestes lugares é, na melhor das hipóteses, pôr-se em perigo próximo de pecado grave sem necessidade. Ir à praia e ser verdadeiramente piedoso é tão impossível como fazer um círculo quadrado. Além disso, alguém deve se perguntar: depois de ter ido a esses lugares, tenho mais vontade de rezar? Tenho grandes desejos de virtude? Volto para casa em paz com a minha consciência e com Deus? Sinto-me "melhor" depois de ter dado ocasião de pecado grave aos outros e de ter me exposto a estas ocasiões, muitas vezes cedendo? A piedade e a praia são absolutamente incompatíveis.

c) Há alguns sacerdotes que nada dizem sobre a praia, e inclusive que afirmam que não há pecado. É possível que existam e, se é assim, estão erradíssimos. Esses tais não são nem bons sacerdotes nem bons confessores, e são responsáveis por todo o mal que nasce destes conselhos.

d) Mas eu sou o único que não vou. Então dê graças a Deus por ser o único que no dia seguinte poderá despertar com a consciência tranquila por não ter pecado indo a esses lugares, por não ter-se colocado em ocasião voluntária de pecar gravemente. Lembrem-se sempre: "Tudo passa, Deus não muda".

e) Mas é melhor deixar as pessoas em estado de semi-ignorância, para evitar a malícia. Quem diz isso mostra que não sabe do que fala. Para a teologia moral a semi-ignorância não existe, e não conhecemos nenhum moralista que utilize esse termo em nenhum caso. O que existe é a ignorância, que não pode ser presumida no comportamento que se tem hoje nas praias. As instruções pastorais citadas neste sermão só mostram que os bispos zelosos, ao instruir o povo, não pensavam que poderiam criar malícia onde não havia...

Não é difícil ver que todos estes argumentos, e muitos outros, não vão até a raiz do problema. São, finalmente, um pano que esconde uma doença mais profunda. É fácil não ir à praia. Basta não ir. Mas, assim como os doentes são fracos e não conseguem fazer esforço, do mesmo modo, quando o espírito do mundo infeccionou uma alma, quando a alma está doente pelo espírito da gozação de vida, qualquer coisinha por Deus é um peso insuportável.

A verdade é que hoje, na prática, é muito difícil conseguir reunir todas as condições necessárias para que se possa ir à praia ou à piscina. Se for possível, não há problema. Mas um bom católico não discute sobre o limite do que é permitido e do que é proibido; deve ter a sua norma de conduta orientada pela sua fé. Deve deixar que todo o seu exterior transpareça a vida divina que leva na sua alma. Não deve se conformar com o comportamento dos mundanos. Além disso, será justamente nos tempos atuais, quando a Igreja passa por problemas incalculáveis, que ficaremos estendidos como lagartos ao sol, nas praias, sem fazer nada? Não se aplica perfeitamente aqui o que Nosso Senhor nos diz no Evangelho da missa hoje: "Por que estais aqui todo o dia ociosos? (…) Ide vós também para a minha vinha." ?

Há dezenas de opções de diversões que não ofendem a Deus, mas todos os anos milhões de pessoas vão à praia, sem preocupação alguma de que ofenderão a Deus e terão que dar contas a Ele do que fazem. A verdade é que os homens podem ter mudado, mas Deus não mudou. Tenhamos bem claro que a agonia de Nosso Senhor no Getsêmani foi feita também por toda esta falta de modéstia atual, que Nosso Senhor via e que o fazia sofrer muito, vendo estas milhões de almas que, séculos depois, não se preocupariam em crucificá-lo com algo que é tão fácil evitar, porque basta não ir. Não fiquemos ociosos quando agora o Corpo Místico de Nosso Senhor sofre tanto. Utilizemos nosso corpo para lucrarmos o salário da vida eterna que Ele nos promete se trabalharmos com diligência na Sua vinha.

Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Escrito por Padre Luiz Fernando Pasquotto em Terça Fevereiro 3, 2015

3 comentários:

  1. Obrigado mais uma vez às responsáveis por esse site!
    A modéstia explicada com autenticidade se torna um muro de divisão entre corajosos e pusilânimes.

    Muito importante essa observação feita pelo padre: "não se pode pensar que tal perigo diminui com o hábito, porque nas pessoas, especialmente nos jovens, o espetáculo contínuo de praias e piscinas, ainda que talvez não leve a pecados naqueles momentos, enfraquece sempre o pudor natural e faz com que uma pessoa comece a se permitir, com facilidade, muitas pequenas faltas, que levam a faltas maiores. Assim, as paixões não diminuem, mas aumentam em tais lugares, e o relaxamento espiritual é uma consequência certa."
    Assim como vemos pessoas que usaram da (falsa) modéstia para se auto-promoverem e obter lucro (chegando ao ponto de divulgarem bíblias PROTESTANTES), aos poucos entendemos a necessidade de inserir a modéstia em TODOS os pequenos hábitos quotidianos, para que todos os nossos gestos sejam agradáveis a Nosso Senhor e fuga de qualquer ocasião de pecado. No fundo, penso que isso é facilmente compreensível. Basta que se leve a sério a busca pela santidade.
    Nossa Senhora abençoe vocês!

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    1. Obrigada por seguir Cleber! Divulgue os artigos do Padre Pasquotto, realmente muito bom! Salve Maria.

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  2. Concordo com você Cléber. Esse ponto que você destacou, também foi o que mais me chamou atenção.
    Eu sempre me senti mal ao ter que ir à praia, seja com a família ou até com o próprio grupo de oração. Eu ficava com um pouco de.ciúmes do meu marido não poder evitar ver mulheres semi-nuas. Eu desde a adolescência, nunca tirava os.shorts ou a saia ( embora me sentisse na obrigação de usar aqueles bem curtos) e.sempre uma blusinha transparente por cima. Nunca entrou na.minha cabeça que aquilo que.não é comum no dia-a-dia fosse normal na praia.

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